Imersos em processos de reflexões e aprendizagem sobre gênero e direitos humanos e suas relações com a educação, o Projeto Geração, que faz parte do Plan International Brasil, está promovendo seminários com o intuito de tratar sobre as necessidades de reconhecimento das articulações entre a vivência escolar e o exercício dos direitos. Os seminários pretendem problematizar os estereótipos de gênero e a maneira como os mesmos permeiam as dinâmicas escolares de modo a construir o enfrentamento da assimetria estabelecida na relação entre meninos e meninas.
Foto: Marcela Pachêco/ ODIA
Uma das mesas de diálogo do seminário, ocorrido esta semana, foi ‘Gênero: uma categoria para se pensar sobre desigualdades’, ministrado pela gerente da Unidade de Programas de Teresina, socióloga e mestre em Ciências Sociais, Nicole Campos. Na oportunidade, foram debatidas a diferença entre sexo e gênero, e como as convenções sociais podem ser utilizadas como forma de manutenção e legitimação de opressões.
Segundo Nicole, as normas de gênero são códigos construídos e impostos pela sociedade para definir como homens e mulheres devem se comportar, elas são ensinadas e reforçadas constantemente. “A gente reforça isto com uma coisa chamada fofoca, quando passa aquela mulher na rua e você comenta ‘menina, você já viu com quantos ela se deitou? Já viu o tamanho da roupa dela?’, ou seja, somos nós, enquanto sociedade, que construímos isso o tempo inteiro no nosso dia a dia”, conta.
Esse reforço das normas sociais é construído pelas instituições em geral, família, amigos, mídia e comunidade, através de um processo chamado de socialização, quando as crianças são ensinadas a viver em sociedade. “E como a gente quer ser aceito, acabamos nos incorporando a determinados padrões, porque muita gente não tem coragem de romper com essas regras; alguns têm, outros não”, explica a socióloga.
Nicole completa: “É importante diferenciar sexo de gênero. Sexo é característica biológica, que identifica uma pessoa como sendo macho ou fêmea. Gênero é cultural, social, histórico e político, diz respeito a hierarquias, é um processo de aprendizagem que dura a vida inteira. São atitudes, comportamentos, expectativas de acordo com o que a sociedade cria sobre o que é ser homem e o que é ser mulher. Você aprende, internaliza e reproduz. Ao mesmo tempo, você também pode sofrer várias opressões de gênero como por exemplo, opressão interpessoal, internalizada ou institucional”.
Através dessas análises das relações sociais busca-se o enfrentamento das relações assimétricas de poder entre gêneros dominantes sob outros gêneros, através de mudanças de crenças e atitudes, desenvolvendo habilidades, criando um ambiente que possibilite mudanças positivas nas normas sociais de gênero, mudando convenções sociais de grupo, no ambiente escolar compreender a relação entre gênero e escola, inserção da temática transversal no currículo de todas as disciplinas, na comunidade envolver lideranças em ações que visem mudanças, e na sociedade promover mudança ou criação de leis.
O Projeto Geração traz para 6.500 meninas e meninos em quatro cidades do Brasil a possibilidade de caminhar em direção a esse desenvolvimento através de metodologia que se desenvolve em torno de educação financeira e habilidades para a vida, apoiando meninos e meninas a realizarem a transição do Ensino Fundamental para o Ensino Médio, fortalecendo as competências, habilidades e atitudes que serão fundamentais para a construção de um projeto de vida sólido.
Por: Ana Paula Diniz- Jornal O Dia