quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Parceria irá desenvolver Judiciário brasileiro na área de direitos humanosParceria irá desenvolver Judiciário brasileiro na área de direitos humanos

Olhar jurídico
notícia geral  18/02/2015
Migalhas
O presidente do CNJ e do STF, ministro Lewandowski, e o representante da CIDH - Comissão Interamericana de Direitos Humanos, o mexicano José Jesús Orozco Henríquez, firmaram carta de intenções visando à capacitação e ao desenvolvimento do Judiciário brasileiro na área de direitos humanos.

A assinatura se deu numa reunião inédita, no gabinete da presidência do STF, com a participação de representantes da CIDH, da Corte Interamericana de Direitos Humanos, do CNJ e da Comissão Nacional de Direitos Humanos. O documento foi assinado também pelo secretário executivo da Comissão, Emilio Álvarez Icasa.

Na assinatura do documento, o presidente do STF e do CNJ, ministro Lewandowski, destacou a importância do protocolo de intenções.

“O primeiro ponto a ser aprofundado é a divulgação, entre os 16 mil magistrados brasileiros, da jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos, das decisões da Comissão, da linha de pensamento que domina esses órgãos, as grandes questões discutidas, e mostrar que o Sistema Interamericano de Direitos Humanos, assim como o sistema internacional, liderado pela ONU, se interligam.”

Ele lembrou que o STF preza muito os tratados internacionais, e que a pauta da Corte tem avançado significativamente nas matérias relativas aos direitos humanos, como nos julgamentos de casos sobre cotas raciais e sociais nas universidades públicas, proteção aos direitos indígenas, reforma agrária e relações homoafetivas.

O representante da CIDH assinalou que o Brasil tem uma participação e intervenção cada vez mais intensa no Sistema Interamericano de Direitos Humanos. “O país assinou a Convenção Interamericana, aceita a competência da Corte Interamericana e tem membros tanto na Corte quanto na Comissão”, observou José Jesús Orozco Henríquez. Por isso, o protocolo de intenções tem, na sua avaliação, “um profundo significado para os juízes e para os operadores jurídicos” porque, entre outros aspectos, colocará à disposição, em português, toda a documentação relativas aos dois órgãos.

O presidente da Corte Interamericana de Direitos Humanos, Humberto Antonio Sierra Porto, também destacou a importância da capacitação dos operadores jurídicos, principalmente juízes, “para que conheçam os padrões internacionais de direitos humanos e possam aplicá-los”. Henríquez lembrou que os principais garantidores dos direitos humanos são as autoridades.

A ministra Luciana Lóssio, do TSE, participou da reunião para a assinatura da carta de intenções como integrante da recém-criada Comissão Nacional de Direitos Humanos, representando o CNJ. Ela anunciou que a CNDH pretende realizar, no fim do ano, um grande evento voltado para as discussões sobre direitos humanos, envolvendo a sociedade civil e o poder público. “O Brasil está muito preocupado com essas questões, e a parceria com a CIDH é um passo importante para a implementação dos direitos humanos como um todo no país”, afirmou.

Controle de convencionalidade

Para o ministro Lewandowski, a carta de intenções é um primeiro passo para aprofundar a integração do Poder Judiciário brasileiro ao sistema Interamericano de Proteção aos Direitos Humanos. “É preciso que os juízes compreendam não apenas como funcionam esses sistemas, mas como se integram, e façam aquilo que o ministro Celso de Mello chama de ‘controle de convencionalidade’, ou seja, verifiquem se determinada ação está ou não em conformidade com as convenções internacionais das quais o Brasil faz parte.”

Capacitação

O documento prevê a realização de cursos de formação e de capacitação de juízes e de funcionários dos tribunais. As qualificações em direitos humanos serão oferecidas no âmbito das escolas da magistratura, por meio de congressos, seminários, colóquios, simpósios, conferências, fóruns e outras atividades jurídicas e de difusão.

A carta também estipula a criação de bibliografia eletrônica no site do CNJ, que reunirá material jurídico de interesse na área de direitos humanos, com tradução em português, a jurisprudência da CIDH e outras informações relevantes para a prática jurídica.

O terceiro ponto da carta prevê a publicação de livro com os textos dos tratados internacionais que compõem o sistema internacional de proteção aos direitos humanos.

Criada em 1959 no âmbito da Organização dos Estados Americanos, a CIDH é responsável pela promoção e pela proteção dos direitos humanos no Sistema Interamericano. A aproximação com organismos internacionais com o objetivo de fortalecer a proteção aos direitos fundamentais é uma das diretrizes do ministro Ricardo Lewandowski para a gestão do Judiciário nacional no próximo biênio.

Filme Selma é uma lição de direitos humanos

Jornal de Hoje
O Povo online
Sem salvadores caucasianos, Selma: Uma Luta Pela Igualdade surge como essencial lição de direitos humanos
DIVULGAÇÃO
Cena de Selma: Uma Luta Pela Igualdade, que se apresenta mais como filme de heróis, além de ser o retrato de um movimento



Existe uma clara linha divisória entre os heróis e os coadjuvantes em Selma: Uma Luta Pela Liberdade, cinebiografia de Martin Luther King Jr. (MLK) dirigida por Ava DuVernay. Ao contrário de obras recentes como Um Sonho Possível (2009), Histórias Cruzadas (2011) e até mesmo, em menor escala, 12 Anos de Escravidão (2013), nos quais a população ou indivíduos negros precisam ser salvos por homens caucasianos, Selma foca na história e nos personagens negros.

A trama segue a campanha de MLK (David Oyelowo) na cidade de Selma, no interior do conservador estado do Alabama, nos Estados Unidos. Lá, ele e o restante do movimento se engajam na luta pelo direito irrestrito ao voto para a população negra. Para pressionar, principalmente, o governo do presidente democrata Lyndon B. Johnson (Tom Wilkinson), Dr. King decide puxar uma marcha da retrógrada e racista Selma até Montgomery, capital do Alabama.

Mais do que o retrato de um movimento, Selma é um filme de heróis. Luther King, Coretta Scott King (Carmen Ejojo), Annie Lee Cooper (Oprah Winfrey), Andrew Young (André Holland), entre diversos outros, são os protagonistas em busca de uma mudança real e palpável. Todos são negros. A presença equilibrada de Malcolm X (Nigél Thatch) ao lado de MLK, a despeito das rusgas do passado entre os dois, mostra ainda a escolha de mostrar o movimento negro como unidade.

O antagonismo é visto no fundamentalismo caucasiano representado pelo governador George Wallace (Tim Roth) e pelo xerife Jim Clark (Stan Houston) – ambos brancos. O grande mérito, porém, é o equilíbrio. Caucasianos e afrodescendentes não são inimigos no filme, como é mostrado no belo momento em que Dr. King convoca o clero para seu lado na causa.

A mise-en-scène bem construída nos protestos é ainda pano de fundo para um discurso extremamente bem empostado por Oyelowo. Mais do que a razão na questão dos direitos da população negra, o ator encarna uma figura de pregador carismático, revelando a importância da fé na luta por justiça social nos EUA da década de 1960. Além disso, o filme ajuda a dimensionar tanto a importância quanto as fragilidades de um líder autônomo em um movimento social. O background familiar de King, bem seguro na figura de Coretta, ajuda ainda a montar um retrato complexo do pastor norte-americano.

Capaz de pregar dentro de sua igreja e discutir com o presidente norte-americano com a mesma paixão, Martin Luther King tem suas dualidades reiteradamente ressaltadas por um uso (tanto quanto excessivo) do recurso do claro-escuro. Ao esconder parte do rosto de MLK e iluminar a outra metade, o filme acerta em determinados momentos ao escancarar os dilemas morais de um homem que precisa escolher entre vencer correndo riscos ou adiar uma vitória em favor da segurança.