quinta-feira, 6 de julho de 2017

A Desigualdade de Gênero: Homem x Mulher

A desigualdade de gênero não é um “privilégio” do Brasil. Infelizmente ela existe desde a antiguidade e persiste até nossos dias. Mas afinal o que é gênero? Gênero pode ter vários significados, aqui nos interessa o significado de gênero em relação ao homem e a mulher. Alguns conceitos:
“Conceito que engloba todas as características básicas que possuem um determinado grupo ou classe de seres ou coisas.”
“Conjunto de seres ou objetos que possuem a mesma origem ou que se acham ligados pela similitude de uma ou mais particularidades.”

Nossa constituição estabelece em seu artigo 5º, inc. 1º:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição ;

            Temos garantida a igualdade de todos constitucionalmente,  no entanto, esse amparo legal sofre  diversas violações no dia-a-dia, o desrespeito a esses direitos acontece a todo o momento, expondo a fragilidade de nossas normas jurídicas perante séculos de discriminação contra a mulher. A mulher precisa trabalhar dobrado para conseguir um salário igual ao do homem. Tem dupla ou tripla jornada de trabalho, visto que trabalha em casa também. A mulher sempre foi vista como um ser inferior e que devia submissão ao homem, e, embora esse quadro venha mudando ao longo dos anos, através de lutas e movimentos feministas, a participação feminina na política, na educação, no mercado de trabalho continua desigual.
A desigualdade de gênero fere princípios e direitos básicos do ser humano, no caso a mulher em especial. Fere o princípio da dignidade humana É sobre a liberdade e a igualdade que está fundamentada a dignidade da pessoa humana. Desrespeitar e desvalorizar alguém, tratar de maneira diferenciada, humilhando e discriminando em função de gênero, é tratar com desigualdade e ferir a dignidade do ser humano. Não é aceitável que discriminações/preconceitos sejam eles de que tipo forem, invalidem e limitem direitos que são  essenciais e fundamentais para a democracia, agindo assim com certeza estaremos fortalecendo a desigualdade social que já existe. Há quem defenda a tese de que homens e mulheres por serem biologicamente diferentes teriam justificadas as desigualdades existentes. É inadmissível usar as desigualdades biológicas para justificar seja lá o que for que exclua a mulher, que discrimine, que  use de violência, que produza qualquer tipo de injustiça.
             A expressão gênero foi utilizada pela primeira vez no Brasil na Convenção de Belém do Pará em agosto de  1996. Está incorporada nas legislações de vários países bem como nas normas internacionais. No Estatuto do Tribunal Penal Internacional (Roma 1998) está incorporado o conceito de gênero: o art. 7º, item 3, “entende-se que o termo “gênero” abrange os sexos masculino e feminino, dentro do contexto da sociedade, não lhe devendo ser atribuído qualquer outro significado”.


            A ONU divulgou o relatório O Progresso das mulheres no mundo, (2015-2016),que mostra que as mulheres recebem um salário quase 30% inferior ao do homem na mesma função. Segundo a ONU, “as mulheres são responsáveis por uma carga excessiva de trabalho doméstico não remunerado referente aos cuidados com filhos, com pessoas idosas e doentes e com a administração do lar.” ( Agência Brasil/Direitos Humanos).

            A ONU Mulheres foi criada em 2010 para tratar da igualdade de gênero e empoderamento das mulheres, investindo na capacidade econômica das mulheres como forma de garantir a diminuição da desigualdade existente. Segundo a ONU o Brasil  tem trabalhado para que essas diferenças diminuam, e se destacou pela criação de mais  trabalho para a mulher e por políticas de inclusão na vida econômica do país. Ações públicas que se propõe a diminuir as desigualdades são de extrema importância e permitem que avancemos  na luta por trabalhos decentes e redução da desigualdade salarial entre homens e mulheres, maior participação política  da mulher, e tantas outras medidas que podem ser tomadas e que valorizem o papel da mulher no desenvolvimento do país.
            Não é fácil mudar uma história de anos de preconceito e discriminação de uma sociedade patriarcal. As desigualdades não são apenas a nível cultural, mas econômicas, políticas, e decisórias. Apesar das mulheres superarem os homens em nível de escolaridade, de representarmos mais da metade da população e do eleitorado, e sermos quase 50% da população economicamente ativa do país, o abismo entre homens e mulheres ainda é grande.  Precisamos ocupar os espaços que ainda não ocupamos em função da desigualdade acentuada, políticas de enfrentamento são bem-vindas. O que queremos é uma sociedade mais justa e igualitária que garanta a todos, igualdade e oportunidade, independente do gênero, da cor, da raça.

Mariene Hildebrando
Especialista em Direitos Humanos
Email: marihfreitas@hotmail.com









Direitos humanos ou Direitos dos bandidos?

Eis uma pergunta que sempre é feita para quem defende os Direitos Humanos. Direitos humanos só servem para proteger bandidos?.  Não. Direitos humanos são direitos fundamentais que possuímos e são para todos. A defesa dos direitos humanos não é algo individual apenas, garante  direitos a todas as pessoas. Não existem garantias que um cidadão inocente não possa sofrer algum tipo de perseguição ou constrangimento ilegal, e vir a ser tratado como bandido, e até o engano ser desfeito ele vai querer alguém lhe defendendo e garantindo seus direitos. Esses direitos não são, portanto, prerrogativas de bandidos apenas, e sim da sociedade em geral.
Perguntas que demonstram o quanto as pessoas estão preocupadas com o seu umbigo apenas. Minha resposta é simples. Todos têm direito ao Direito, e os Direitos Humanos são para HUMANOS! Simples assim. Mas parece difícil convencer aquele que se acha melhor que o outro porque não cometeu “nenhum crime”, as justificativas são muitas. As críticas são imensas, e a ala mais conservadora da sociedade acha que os direitos humanos servem para privilegiar bandidos, legitimando a conduta transgressora, através de uma punição segundo eles inexistente, pois não pune. Nesse sentido o entendimento é que somente uma postura violenta e dura daria resultado e faria a criminalidade diminuir, algo como : Bandido não tem direitos, e qualquer punição que sofra ainda é pouco.
            Direitos humanos ou Direitos naturais, individuais, servem para designar a mesma coisa, os direitos fundamentais do homem. Correspondem às necessidades básicas do ser humano, aquelas que são iguais para todas as pessoas e devem ser atendidas para que se possa levar uma vida digna.  São princípios que servem para garantir nossa liberdade, nossa dignidade, o respeito ao ser humano para termos uma sociedade com igualdade para todos.
            Se são universais subentende-se que são para todos, independente de credo, raça, cor, sexo, posição política, social, econômica etc. inclusive para bandidos. Portanto dizer que os Direitos Humanos se preocupam apenas com bandidos é uma falácia. Não podemos ser tão ingênuos a ponto de querer isolar o criminoso pensando nele como apenas um indivíduo mau caráter, de má índole. Essa visão simplista não se sustenta. O sujeito é fruto de vários fatores sociais. Como as pessoas viram marginais?  Por acaso as pessoas nascem bandidos? Prevalece em nossa sociedade injustiças e desigualdades profundas que são a base para a criminalidade. Não somos a favor do crime, e todos que são vítimas têm o direito de ficarem furiosos com isso, mas não respeitar os direitos humanos não vai ajudar a mudar esse quadro que aí está, pelo contrário, só vai fomentar o ódio e aumentar a criminalidade.
 É certo que nada justifica o crime ou qualquer outro tipo de violência. Tudo que fere a dignidade humana deve ser combatido, mas dizer que os Direitos Humanos são apenas para bandidos é não querer encarar a realidade que vivemos que é a da desigualdade social.
            É natural que os defensores dos direitos humanos dediquem mais atenção àqueles que são mais frágeis e que ocupam uma posição menos privilegiada dentro de uma sociedade. A impunidade tem sido uma das bandeiras dos militantes dos direitos humanos, dizer que bandido bom é bandido morto é menosprezar a vida humana, é dizer que uns são melhores que outros, e se arvorar juiz da vida, determinando quem deve morrer e quem é digno de continuar vivendo.
    Quando falamos em Direitos Humanos, muitas ideias passam por nossa cabeça, muitos assuntos e discussões, vemos os direitos humanos serem violados a todo o momento em todos os lugares, e, em todos os tipos de sociedade. Portanto discutir o direito dos criminosos é discutir o direito de seres humanos. Bandido, criminoso, tem que ser punido sim!  Mas essa punição não cabe a nós cidadãos comuns, e sim ao Estado que tem como função promover o bem comum, zelar pela segurança e bem estar do cidadão.
            A insatisfação social ocasionada pela ineficiência do Estado em punir, gera a vontade de fazer justiça com as próprias mãos. Isso se percebe nos linchamentos e casos de vinganças que ocorrem diariamente. É verdade que a criminalidade aumenta cada vez mais e isso nos assusta, mete medo, nos causa insegurança e alimenta nossa raiva contra essa situação que se instalou em nosso dia-a-dia. Mas achar que nós mesmos podemos resolver a situação, cometendo atrocidades, fazendo “justiça” não resolve em nada os problemas. Culpar os defensores dos direitos humanos também não.     As leis são para todos, criminosos ou não. Os defensores dos direitos humanos lutam pelo respeito e defesa desses direitos. Não defendem bandidos, mas sim o direito que é de todos a um processo legal, as garantias constitucionais. Lutamos para que haja justiça e punição, mas sem deixar de lado as normas, as garantias aos direitos sociais e individuais, a preservação da dignidade humana. Não queremos voltar ao tempo da vingança privada, ou permitir ao Estado que exerça seu poder ilimitadamente sobre os cidadãos.  Direitos humanos são para as vítimas e são para os bandidos. Se nos sentimos ameaçados e sem liberdade por conta do medo que nos domina, vamos cobrar de quem tem que nos proteger. Vamos cobrar uma atuação mais rigorosa do Estado. A paz só é possível com a observância dos direitos humanos. Como declarou Martin Luther King, Jr., quando defendia os direitos das pessoas de cor nos Estados Unidos durante a década de 60: “Uma injustiça em qualquer lugar é uma ameaça para a justiça em todos os lugares.”
Mariene Hildebrando

e-mail: marihfreitas@hotmail.com