Dizer que o homem é o único ser que mata outro por maldade, por raiva, por vários motivos,
todos fúteis( a maioria), e sem justificativas, é quase como “chover no
molhado”. Mas em se tratando de seres humanos tudo é possível e nada deveria
nos surpreender mais. A verdade é que ainda nos surpreendemos com o que o homem
é capaz de fazer em termos de desrespeito a outro ser, não me refiro apenas ao
ser humano. Há alguns dias assisti a uma reportagem na televisão que me deixou chocada, me dei conta que ainda não estou
insensível a todas as barbáries que presenciamos todos os dias, ainda não estou
anestesiada, a enxurrada de informações desse tipo é tão grande que alguns de
nós acabam criando uma camada de insensibilidade como se isso fosse a coisa
mais normal do mundo. Assim
como eu, muitas pessoas ainda ficam chocadas com certas coisas que o ser humano
é capaz de fazer, por pura maldade, por falta de respeito , por não se colocar
no lugar do outro, não praticar a alteridade, por egoísmo e insensibilidade e
outras tantas razões que não servem de maneira alguma como justificativa de
nada que possa colocar outro ser (humano/animal) em desvantagem, em situação
precária e humilhante, em situação de risco, que comprometa sua integridade
física ou mental.
E nós ditos seres
racionais seguimos surpreendendo, ignorando leis e direitos, ignorando deveres,
regras básicas de educação, esquecendo-nos de sermos caridosos, praticarmos a
compaixão e o amor. O que me deixou chocada foi a matéria sobre o caso do
taxista moçambicano de 27 anos que foi algemado a traseira de um carro de polícia e arrastado pelas ruas na África do Sul, após a discussão com os agentes policiais, sobre
estacionamento numa praça de taxi, e que veio a morrer depois na prisão. Nada justifica essa atitude de
desrespeito e desvalorização da vida e
do ser humano. O homem perdeu a noção dos limites. Vivemos numa sociedade
intolerante, violenta, e que não sabe conviver com a diversidade, banalizando o
mal e deixando a ética de lado.
O que dá a certas
pessoas o direito de pensar que podem tudo? Que podem julgar e punir conforme
suas crenças? Com certeza a falta de limites é um dos motivos. Existem normas
éticas e morais que são universais, direitos humanos que são o fundamento da
condição humana, não precisariam estar positivados pelo simples fato que os
temos desde sempre, mas eles estão na Declaração Universal dos Direitos
Humanos, nas constituições, nas leis, a sociedade garante assim o respeito a
dignidade humana. O homem é um transgressor das próprias leis que ele cria, e
cria leis porque não consegue viver em sociedade se não houver regras, havendo,
já comete transgressões inomináveis, sem elas viveríamos no caos absoluto. O
ser racional é cruel.
O escritor português Jose
Saramago dizia que ““O homem é cruel, sobretudo em relação ao homem,
porque somos os únicos capazes de humilhar, de torturar e fazemos isto com uma
coisa que deveria ser o contrário, que é a razão humana.”
Não vou entrar na discussão sobre a crueldade fazer parte
da natureza humana ou ser provocada pelo meio em que se está inserido, isso
daria um outro texto, mas não vem ao caso. Aqui quero deixar claro que
precisamos repensar o que é viver e fazer parte de uma sociedade. Que valores
queremos ver melhorados, que presente queremos construir para os nosso filhos
viverem um futuro mais feliz, de respeito, de paz e de comunhão, com um
espírito de fraternidade e de união. Onde essas atitudes “desumanas” não
encontrem espaço e nem justificativas de quem as comete. Atrocidades são
cometidas contra pessoas e contra animais, e a barbárie humana parece não ter
limites. O que não podemos é nos acostumar com esse tipo de notícia, não
devemos fechar os olhos e achar que nós não somos assim, SOMOS, (nós humanos).
Mas acredito que
nem tudo está perdido, acredito que exista mais bondade e amor do que maldade e
que o ser humano ainda tem salvação.
Mariene
Hildebrando de Freitas
Advogada
e especialista em Direitos Humanos
Email:
marihfreitas@hotmail.com