Representantes de sindicatos da educação, dentre eles o Sindscope, protestam no Consulado do México contra desaparecimento de 43 estudantes e entregam manifesto a consulesa
IMPRENSA SINDSCOPE
Os assassinatos dos 43 estudantes da Escola Normal Rural Raúl Isidro Burgos, na cidade mexicana de Ayotzinapa, não podem ficar impunes. Foi o que afirmaram os representantes de sindicatos de educadores do Rio na manifestação simbólica em frente ao consulado do México no Rio, na tarde de terça-feira (18). “O caso reflete o crescimento da criminalização dos movimentos sociais. Quem protesta é tratado como criminoso”, diz trecho de carta distribuída à população, intitulada “Por que matam os estudantes”, que traz a assinatura do Sindscope, do Sinasefe e da CSP Conlutas (Central Sindical e Popular), dentre outras entidades.
Os servidores disseram que a tentativa de criminalizar as lutas sociais é comum aos governos latino-americanos e que o recente caso mexicano exige a solidariedade e o apoio para além das fronteiras daquele país. “O que nos une é a defesa da escola pública e o legítimo direito de manifestação e expressão da classe trabalhadora”, disse, à reportagem, a servidora Sonia Lucio, professora do Serviço Social da UFF (Universidade Federal Fluminense). “Os governos querem nos calar usando todo tipo de armas. Temos que denunciar, para que não se alastre mais, isso pode acontecer com qualquer um de nós, com os nossos filhos”, disse.
Os educadores foram ao consulado entregar manifesto no qual condenam os assassinatos, pedem a investigação do caso, a punição dos responsáveis e o fim da repressão contra estudantes e trabalhadores do México. Um funcionário do local alegou que a consulesa, María Cristina de la Garza Sandoval, não estava e propôs marcar uma data para entrega do documento – o que acabou acontecendo na sexta-feira (21). O servidor Luiz Sérgio Ribeiro representou o Sindscope e o Sinasefe na entrega do manifesto, que também é assinado pela Aduff, Adufrj, Andes-SN e CSP-Conlutas, entre outras entidades.
Sindscope- Sinasefe
em 23/nov
‘Criminalização em toda América Latina’
O massacre no México ocorreu quando estudantes que se dirigiam a um ato público em Iguala, no estado de Guerrero, foram reprimidos por policiais do governo municipal. Seis pessoas foram mortas, das quais três eram estudantes, 25 ficaram feridas e 43 desapareceram sob a guarda da polícia local – o caso desencadeou uma onda nacional de protestos. Algumas semanas depois, a Procuradoria-Geral da República do México disse ter informações de que os estudantes foram mortos e os corpos, queimados.
Guerrero é um estado do sudoeste mexicano com cerca de 3,4 milhões de habitantes, cuja principal atividade econômica é o turismo. Os protestos se alastraram pelo país, mas é ali que são mais intensos. Faz poucos dias, o secretário de governo, Michel Ángel Chong, disse a mais de cem empresários, que se queixavam de prejuízos causados pelas manifestações, que aumentará a repressão a atos que as forças de segurança venham a considerar ‘violentos’, segundo informou o jornalista Lourival Santanna, enviado pelo jornal “O Estado de São Paulo” à região.
“É a mesma lógica presente em toda América Latina: diante das vozes que clamam por mudanças, os governos vêm apostando na via das repressões”, criticou Roberto Leher, professor da Faculdade de Educação da UFRJ (Universidade Federal do Rio de janeiro), citando, como exemplo, o que ocorreu no Brasil nos protestos de junho de 2013. Enquanto segurava uma foto impressa numa folha de papel do estudante Magdaleno Rubén Lauro Villegas, de 19 anos, uma das vítimas do massacre de Iguala, Leher ressaltava a importância de demonstrar solidariedade. “Foram estudantes que lutavam pela educação pública. Que as autoridades do México saibam que o mundo todo está vigilante, não permitiremos que [a impunidade] de Tlatelolco se repita com Ayotzinapa”, disse, referindo-se ao massacre de estimados 300 manifestantes na Cidade do México, a maioria estudantes, em 2 de outubro de 1968, por tropas militares do então presidente Gustavo Díaz Ordaz Bolaños, a dez dias dos Jogos Olímpicos que aconteceriam naquela capital.
‘Motos e torturados’
O direito à vida e a luta contra violação dos direitos humanos levaram ao ato a argentina Fernanda Kilduff, doutoranda do Serviço Social na UFRJ. “Os estudantes eram politizados e estavam se organizando por seu direito ao estudo e foram mortos e torturados. É fundamental que esses atos se repliquem por toda a América Latina e no Mundo”, defendeu a estudante.
Na avaliação de Júlio Condaque, professor de história e representante da coordenação da CSP-Conlutas (Central Sindical e Popular) na atividade, o que ocorreu no México foi um “crime de estado” e os organismos internacionais também precisam se posicionar, assim como o governo brasileiro, que até o momento não se pronunciou sobre o caso. “É a criminalização internacional dos movimentos [socais]”, disse.