segunda-feira, 23 de junho de 2014

Jornalistas lançam a "Ponte", novo portal sobre segurança pública e direitos humanos





A partir da próxima segunda-feira (23/6), começa a funcionar a “Ponte”, projeto de um grupo de 20 jornalistas que, juntos, decidiram que é hora de criar um novo veículo de comunicação focado em segurança pública e direitos humanos. A nova empreitada conta com o apoio da agência de jornalismo investigativo Pública e profissionais de renome no mercado.

Crédito:Reprodução/ Facebook
Coletivo conta com a participação de jornalistas especializados em segurança pública e direitos humanos
Entre os envolvidos, estão nomes como o de André Caramante, Bruno Paes Manso, Natalia Viana, Laura Capriglione e Milton Bellintani, entre outros. Os profissionais, experientes no assunto segurança pública e direitos humanos, se reuniram no início do ano para discutir o atual cenário da cobertura jornalística sobre o tema. A conclusão foi que a imprensa precisa adotar uma nova abordagem, respeitando questões éticas e princípios jornalísticos.

“Todo mundo na 'Ponte' pensa que esse é um tema crucial para a nossa democracia. Então foi uma junção de quereres. Todo mundo estava mais ou menos querendo a mesma coisa. […] Essa é a melhor aposta no jornalismo esse ano no Brasil. Precisa se falar de segurança pública com o viés dos direitos humanos”, afirma Natalia Viana, uma das fundadoras e diretora de estratégia da agência Pública, incubadora do projeto.

Segundo Laura Capriglione, que atuou por quase dez anos na Folha de S. Paulo em pautas sobre segurança pública, a Ponte questiona os parâmetros da cobertura tradicional da grande imprensa. “Os programas vespertinos da televisão, que são tremendamente sensacionalistas, feitos praticamente aos gritos, com apresentadores histéricos e tal, são programas que têm audiência altíssima. Isso mostra que existe um interesse da população nesse assunto”, defende a jornalista.

"Mas essa forma quase histérica de lidar com o assunto, no nosso ponto de vista, é uma forma que contribui muito pouco para o desenvolvimento das instituições. Então, a gente acha que é preciso ter uma cobertura sistemática, séria e que, acima de tudo, privilegie os direitos dos acusados, o respeito à lei, etc., que é o que não se vê nesses programas. Onde chega a haver, inclusive, apresentadores pedindo a execução sumária de acusados de crimes, e por aí vai”, continua Laura.

A página terá atualizações diárias, com reportagens predominantemente em texto, mas também com muito conteúdo multimídia. A redação da Ponte opera dentro da sede da Pública em São Paulo (SP). A agência também faz parte do conselho editorial do projeto, auxiliando na discussão de pautas, e também ajudando a equipe a se estruturar como instituição. A expectativa é que a "Ponte" se torne totalmente independente até 2015. 

Segundo Natalia, a Pública está constantemente estudando novas oportunidades de encubar projetos independentes de jornalistas. Como uma iniciativa sem fins lucrativos, o investimento inicial parte integralmente da agência. "Ainda está muito no começo, estamos mais focados no lançamento do site nesse momento. Mas estamos sim estudando novas parcerias, não descartamos nenhuma estratégia de financiamento, nem mesmo publicidade. Mas não temos ainda nada definido", diz a jornalista.

A importância do tema

Segundo o jornalista Bruno Paes Manso, pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP) e um dos fundadores da “Ponte”, o projeto não pretende “corrigir” a cobertura da imprensa tradicional, mas sim propor uma nova abordagem.

“A mídia fala de uma série de assuntos, como política, economia, tem cobertura do congresso, do senado, Copa do Mundo, transporte, etc.… A questão da segurança pública acaba ficando para um outro plano. Sendo que, na nossa avaliação, esse é um assunto muito importante e que é mal coberto”, diz Manso.

“Então é mais uma questão de foco do que de cobertura certa ou errada. O certo e o errado é discutido permanentemente. A gente se propõe a lidar com essa questão como prioritária para a democracia, e por isso a gente acha fundamental falar a respeito desse assunto".

Laura afirma que o papel da imprensa com uma boa cobertura jornalística é determinante para o funcionamento correto da democracia no Brasil. “A gente acha que, se essa questão da segurança pública, da justiça, dos direitos humanos, não é tratada com a seriedade e com a urgência que ela precisa, a democracia corre um sério risco no Brasil. E, ao contrário, a gente pode envergar mesmo para uma sociedade de linchadores, de pessoas que acham tudo bem fazer justiça com as próprias mãos, e não dar o direto de defesa para as pessoas, etc.…”

“Conquistas absolutamente essenciais para a democracia começam a ser colocadas em risco. Então o nosso objetivo é, mesmo, defender princípios sempre de maneira pluralista, apartidária e independente, que é o que configura o melhor jornalismo”, finaliza a jornalista.

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