terça-feira, 7 de julho de 2015

Maria Barroso. Uma vida dedicada à defesa dos direitos humanos


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Renascença

Foi uma vida dedicada à luta pela liberdade, pela solidariedade e pela tolerância. Maria de Jesus Barroso Soares sempre foi muito mais do que a mulher de Mário Soares. Apesar de ter deixado o Palácio de Belém há quase 20 anos, para muitos portugueses nunca deixou de ser a “primeira-dama”.

Nascida no Algarve em 1925, era a quinta de sete irmãos. A mãe era professora primária, o pai militar e lutador antifascista. Foi em casa que teve o primeiro contacto com a política, à qual dedicaria um amor tão forte como o que devotou toda a vida às artes, sobretudo ao teatro e à poesia. 

Estudou Arte Dramática no Conservatório Nacional e Ciências Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Foi aí que conheceu Mário Soares. 

Numa entrevista à Renascença, em 1999, Maria Barroso recordava o primeiro encontro. “Foi um colega nosso, o João Falcato, que nos apresentou. Eu estava a chorar porque tinha sido impedida de fazer exame a uma cadeira por excesso de falta. A cadeira era leccionada à tarde e eu faltava bastante porque à uma e meia começavam os ensaios no teatro, mas tinha-me preparado para o exame e não me deixaram fazer. O Mário ia a passar, o João contou-lhe o sucedido e ele mostrou-se muito indignado com a situação.” 

A simpatia mútua foi imediata. Passados três anos, casavam, na cadeia do Aljube, em Lisboa, onde Mário Soares estava preso por motivos políticos. Para trás ficava uma promissora carreira de actriz, sobretudo no Teatro Nacional D. Maria II. Ainda regressaria ao teatro, para mais um ou dois espectáculos, e ao cinema, em dois filmes de Manoel de Oliveira e Paulo Rocha.

Pela democraciaA luta contra a ditadura passou a dominar a sua vida. 

Em 1969, foi candidata a deputada pela Oposição Democrática. Proibida pelo regime fascista de exercer a docência, dirigiu o Colégio Moderno, fundado pelo seu sogro, de forma mais ou menos clandestina enquanto o marido estava preso ou no exílio. 

Em 1973, esteve na Alemanha, na fundação do Partido Socialista. Era a única mulher presente e ficou ao lado dos que consideravam a decisão precipitada, opondo-se a Mário Soares. 

Depois do 25 de Abril, foi eleita deputada à Assembleia da República, entre 1976 e 1983. Chegou ao Palácio de Belém, com o marido como Presidente, em 1986. 

Nos dez anos que se seguiram, empenhou-se na defesa do sentido de família, na prevenção da violência e no apoio aos países de língua portuguesa. Actividades ditadas pelo respeito pelos outros e pelo amor pelo próximo, valores segundo os quais educou os seus filhos, o político João Soares e a sua irmã, Isabel Soares, directora do Colégio Moderno. 

“Nunca quis que os meus filhos odiassem ninguém, mesmo quando assistiam a cenas terríveis como era ver o pai através de duas redes, a um metro de distância. Era como ver um animal numa jaula. Nunca os incentivei ao ódio. Disse-lhes sempre que o que é preciso é que ninguém, seja quem for, passe por uma situação semelhante. E isto passou para eles porque não era só o que eu dizia, era também o que eu fazia”, relembrava à Renascença.  

A pensar nos outros até ao último diaDepois de deixar o Palácio de Belém, foi presidente da Cruz Vermelha Portuguesa. Fundou e presidiu, até ao último dia, à Pro Dignitate – Fundação de Direitos Humanos. 

Há muito afastada da política activa, nunca se demitiu de pensar Portugal, a Europa e o mundo. Na mesma entrevista à Renascença, defendia, aliás, a transformação que sonhava para a União Europeia. 

“A Europa é um espaço que precisa de ser fortalecido. É preciso que seja não só um espaço económico, mas também cultural e social, um espaço onde as pessoas possam viver, que tenha peso próprio e no qual se imponha os valores da cultural ocidental.”

A sua longa carreira foi premiada com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, três doutoramentos “honoris causa”, duas dezenas de condecorações atribuídas por países de todo o mundo, dezenas de prémios e cargos de destaque em perto de 30 organizações, sobretudo de carácter humanitário. 

Numa entrevista recente ao jornal “i”, por ocasião dos seus 90 anos, deixava claro como gostaria de ser recordada: “Uma cidadã modesta mas amante da liberdade, da solidariedade e do amor. A minha palavra preferida, sem qualquer dúvida.”

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