sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Religiosidade e Direitos humanos

Por Mariene Hildebrando

Acho que a religião ideal seria a que abrange tudo.  
            Não pretendo falar de uma religião em particular, mas sim de religiões. Em um mundo globalizado, onde os problemas aumentam, são crises financeiras, crises políticas, guerras, valores ameaçados, o que acaba acontecendo é que a religião, para muitos, acaba por ser  o caminho para a salvação e  para a resolução dos problemas, mas a  globalização também aproxima as pessoas.  Une - nos em torno de causas e lutas comuns. Lutamos pela justiça e pela paz, contra o preconceito, ajudamos aqueles que estão sofrendo por catástrofes naturais, ou por quem está no meio de uma guerra, e nessa hora  queremos ser solidários, independente da religião que praticamos.
             Caminhamos para o sincretismo religioso, quando deixamos as diferenças de lado, as crenças e doutrinas se fundindo em torno de algo maior como a compaixão e o amor pelo próximo, como a repulsa pelas desigualdades e a luta por um mundo mais fraterno e solidário. “Sincretismo", (Houaiss), é "a fusão de diferentes cultos ou doutrinas religiosas”. Nesses momentos o que nos move é um sentimento maior que ultrapassa o tempo, as práticas religiosas e  as crenças individuais. É a fraternidade que nos une. Mas surge a pergunta inevitável: Quanto isso é benéfico para nós? Quanto o sincretismo religioso pode nos desorientar e nos afastar daquilo que acreditamos e praticamos dentro da nossa fé, ou quanto ele nos aproxima das pessoas no momento em que nos une em torno de algo maior? Ele nos enfraquece ou nos torna mais fortes e tolerantes, orientando nossas ações?
            O papa Francisco recentemente se posicionou contra o sincretismo quando afirmou que: "Um sincretismo conciliador seria, no fundo, um totalitarismo dos que pretendem conciliar prescindindo de valores que os transcendem e dos quais não são donos. A verdadeira abertura implica conservar-se firme nas próprias convicções mais profundas, com uma identidade clara e feliz, mas disponível para compreender as do outro e sabendo que o diálogo pode enriquecer a ambos. Não nos serve uma abertura diplomática que diga sim a tudo para evitar problemas, porque seria um modo de enganar o outro e negar-lhe o bem que se recebeu como um dom para partilhar com generosidade.” (Evangelii Gaudium, 251, O diálogo inter- religioso).Compreender e dialogar somente. ( Ecumenismo)
            A verdade é que não tenho respostas para as perguntas que fiz anteriormente.  Sabe-se que as pessoas que possuem algum credo, alguma religião, são mais felizes, isso segundo a própria ciência. Tirando algumas exceções, precisamos  acreditar na salvação, em algo maior que nós, que satisfaça nossos anseios espirituais básicos e que nos dê esperança. Precisamos ter para onde correr, a quem orar, adorar, acreditar. Precisamos transbordar a nossa fé em algo, em alguém, ou um Deus. Certamente alguns não concordam com isso. Escolhem não ter religião. Isso é liberdade religiosa.             Mas voltando aos que professam alguma fé, a pergunta é: Por que algumas pessoas acham que sua religião ou sua crença é sempre a melhor?  Porque alguns brigam por causa disso, são intolerantes com a fé alheia, a ponto de  morrer defendendo sua crença,  pior, á ponto de matar por ela? Não podemos viver em harmonia com todos, sem achar que a minha escolha é a correta? Com certeza quando falamos de respeito e tolerância religiosa podemos dar exemplo ao mundo. Aqui não matamos, nem cometemos outras atrocidades, em nome da religião.
            Somos um país em que a pluralidade religiosa está presente, em que a mistura de raças, cores e credos, nos torna um país com uma diversidade cultural e religiosa incrível, onde se procura garantir a igualdade respeitando as diferenças. O Programa Nacional dos Direitos Humanos possui uma cartilha –Diversidade Religiosa e Direitos Humanos- elaborado  por pessoas de diversos credos, que acreditam em um mundo melhor. O Brasil como Estado laico deve garantir a liberdade religiosa de seus cidadãos.  Diz o artigo 5º, inciso VI, da Constituição Federal do Brasil: “É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias.”
            A Portaria nº 92, de 24 de janeiro de 2013, instituiu o Comitê Nacional da Diversidade Religiosa, que tem como finalidade,” auxiliar a elaboração de políticas de afirmação do direito à liberdade religiosa, do respeito à diversidade religiosa e da opção de não ter religião de forma a viabilizar a implementação das ações programáticas previstas no Plano Nacional de Direitos Humanos”. (Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República).
             A religião ideal não existe. Ouso dizer que se existisse, conteria um pouco de cada uma. Nossa plenitude e felicidade independem de seguir esta ou aquela religião, esta ou aquela doutrina, esta ou aquela crença.  Não existe a mais correta. Existe a que me faz feliz e satisfaz minhas necessidades. Todas tem como base o amor, o respeito ao próximo, a compaixão, o perdão e outros valores e qualidades que só nos fazem bem. Os conflitos que muitas vezes são gerados pela religião não acrescentam em nada para a humanidade.
            Seja como for, acreditar em algo, ter fé, exercitar a espiritualidade, nossas crenças, buscar o que  melhor reflete o que pensamos e sentimos só pode nos fazer bem. Cada um sabe o que é melhor para si, e o que corresponde aos seus valores. Aquilo que nos tráz paz e conforto, que nos alegra e alivia a alma. Mas não devemos achar que nossas escolhas são melhores do que a dos outros. Devemos respeitar toda e qualquer crença e deixarmos a intolerância para trás. Uma sociedade justa e democrática se constrói em cima do diálogo e do respeito às diferenças.  Somos livres para pensar diferente, mas esse pensar não pode ser no sentido de discriminar, de ofender ou usarmos de violência para defender aquilo que acreditamos. Não importa o nome que damos a ELE, Deus, Alá, Tupã, Javé, Olorum, O Grande Espírito, A Deusa, Brahman, o Arquiteto do Universo,... No final todos almejam a mesma coisa, a paz entre os homens, e que nossos direitos básicos sejam garantidos, e que o principal deles ( o direito a vida) seja preservado e respeitado.
“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender; e, se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar.(Nelson Mandela)      




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