SUL 21 25/abr
Da Redação
“Estou viajando para fora. Em breve mando notícias”. Estas foram as últimas palavras que o gaúcho de São Sepé Lino Brum Filho recebeu do irmão, Cilon Brum Filho – uma das inúmeras vítimas do regime militar no Brasil. “Sei que ele foi morto na Guerrilha do Araguaia, mas não sabemos exatamente em que circunstâncias e nunca tivemos uma sepultura, pois nunca foi encontrado o corpo”, conta Lino.
Este testemunho é um entre centenas coletados pelo projeto Clínicas do Testemunho, criado pela Comissão Nacional de Anistia em 2013 para dar amparo psicológico às vítimas da ditadura militar. A necessidade partiu das oitivas coletadas em audiências públicas para reunir informações sobre os requerentes de indenizações por parte do Estado brasileiro. “Foram realizadas 90 Caravanas de Anistia desde que ela foi criada (2008), em vários lugares do Estado. Nas audiências públicas, muitas vezes precisávamos parar os depoimentos e nos colocar próximo àquelas pessoas, oferecer água, e então percebemos a necessidade de um apoio psicológico”, explica o vice-presidente da Comissão de Anistia, José Carlos Moreira.
De forma piloto, psicólogos atendem individual e coletivamente vítimas e familiares para tratamento terapêutico e apoio por meio de grupos, seminários, teatro e intervenções urbanas em Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo. O relatório final do trabalho, que encerrará em junho deste ano, apontará a necessidade de instituir o atendimento terapêutico e de apoio médico no SUS (Sistema Único de Saúde) e no Suas (Sistema Único de Assistência Social).
Coletivo pede permanência do projeto
Para defender a continuidade do projeto, psicológicos, ativistas e pacientes da Clínica do Testemunho no Rio Grande do Sul fundaram o Coletivo de Filhos e Netos RS. Em audiência pública nesta sexta-feira (24), o grupo defendeu a importância das políticas públicas de atenção à saúde dos afetados pela violência da ditadura brasileira. O evento contou a presença da psicanalista Fabiana Rousseaux, articuladora do Projeto Clínicas do Testemunho no Brasil e com o ex-preso político e representante do Comitê Carlos de Ré, Sérgio Bittencourt. Também testemunharam filhos, netos e familiares de afetados pela violência de Estado da ditadura brasileira, que, além de seus relatos, compartilharam fotos, desenhos e toda a emoção de reviver o sofrimento do período de exceção.
“Precisamos capacitar os Centros de Referência em Assistência Social, envolver as secretarias estaduais e municipais de Saúde, Assistência Social e Direitos Humanos para dar continuidade a iniciativas como esta. Não são apenas as vítimas daquele período que sofreram, são também a segunda e terceira geração destas pessoas. Os irmãos, sobrinhos, tios, filhos e netos”, conta o psicólogo e coordenador das capacitações dos profissionais que atuam no projeto Clínica do Testemunho no RS.
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